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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Laser, células-tronco, odontologia e câncer

VEJA publicou na primeira semana de janeiro uma longa reportagem sobre os benefícios dos lasers em várias áreas da medicina. Além dessas aplicações, essa nova tecnologia tem importante uso na odontologia e também na prevenção e tratamento das mucosites orais de pacientes submetidos a altas doses de quimio e radioterapia, com significante melhora da sua qualidade de vida. Recentemente, fizemos uma pesquisa sobre o tema em colaboração com o professor Carlos de Paula Eduardo, titular da Faculdade de Odontologia da USP. Analisamos os efeitos do laser de baixa potência na proliferação de células-tronco. Os resultados, que foram publicados na revista Lasers in Surgery and Medicine, foram muito interessantes - e explicam porque os raios laser atuam na regeneração celular.

Os lasers ajudam na recuperação de mucosas

A equipe de cirurgiões dentistas da Faculdade de Odontologia da USP, sob a coordenação do professor Carlos, é apaixonada pelos lasers há muito tempo. Perceberam há alguns anos que, quando utilizavam os lasers de baixa potência nos tecidos moles bucais, em lesões benignas onde as mucosas estavam comprometidas, elas se recuperavam mais rapidamente. Se você já teve herpes com manifestações bucais ou aftas alguma vez na vida deve saber o quanto isso incomoda. Imagine então lesões maiores na boca.

Como agem os lasers?

Como pesquisadores que somos, possuídos pela curiosidade, não nos contentamos em apenas observar esse efeito. Isso era pouco. Queríamos saber mais… Qual era o mecanismo pelo qual os lasers interagiam com as mucosas? Será que eles atuariam também sobre as células-tronco? E para responder essa questão fizemos um experimento muito simples.

O efeito dos lasers nas células-tronco

Estabelecemos uma cultura de células-tronco a partir da polpa dentária que foi separada em dois grupos e que foram cultivados segundo os protocolos habituais. A diferença é que no primeiro grupo aplicamos também o laser - e no segundo, não. É importante ressaltar que trata-se de um laser de baixa potência. Após um período de 24 horas, as células foram analisadas em teste cego, ou seja, quem observava os resultados não sabia se as células tinham sido irradiadas ou não. E adivinhem o que aconteceu? As células, em déficit nutricional, submetidas à irradiação com laser de baixa potência, haviam proliferado mais. Acabávamos de comprovar que eles atuavam na divisão celular das células-tronco da polpa dentária. Tínhamos a explicação para a melhor recuperação das mucosas alteradas.

O valor do laser para pacientes com câncer

A quimioterapia e a radioterapia de cabeça e pescoço podem causar lesões importantes nas mucosas bucais. Cirurgiões dentistas que estão trabalhando em hospitais e universidades têm dado atenção especial aos pacientes que são submetidos a altas doses de quimioterapia e radioterapia nessas partes do corpo. Eles podem apresentar manifestações severas nos tecidos moles da boca, uma inflamação da mucosa chamada mucosite oral, que provoca muita dor e extrema dificuldade na hora de comer. Além disso, essas feridas tornam-se porta de entrada para microorganismos, aumentando significativamente o risco de infecções.

Todos os centros de quimio e radio deveriam ter lasers

É fundamental que os protocolos utilizados nas quimioterapias sejam discutidos, entendidos e aplicados por equipes multiprofissionais (médicos, dentistas, enfermeiras, etc), pois é necessário um profundo conhecimento científico da tecnologia laser para alcançar os benefícios desejados . Mas vale a pena. As mucosas se recuperam rapidamente sem efeito colateral e o paciente ganha muito em qualidade de vida!

O doutor Carlos conta a história de uma garotinha de 3 anos que havia sido internada para transplante de medula óssea e tinha muitas lesões bucais. Amedrontada, chorou quando o protocolo de laserterapia foi iniciado. Mas à medida que foram aparecendo os efeitos do tratamento e o alivio da dor, ela mesmo pedia o laser antes de tomar o café da manhã. Era preciso que a equipe de odontologia fosse cedinho ao hospital, mas o seu sorrisinho de satisfação compensava qualquer esforço. É por isso que defendemos que todos os centros de quimioterapia e radioterapia tenham a tecnologia laser integrada ao serviço prestado. O custo do equipamento laser de baixa potência, de origem nacional, é baixo - e o retorno para a saúde do paciente é gigantesco.

Por Mayana Zatz


Laser, células-tronco, odontologia e câncer


http://veja.abril.com.br/blog/genetica/

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Das questões técnicas às éticas, livro discute células-tronco e outras tecnologias

Fernanda Marques

Em tempo de acirrada discussão sobre o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas, é fundamental que o cidadão se mantenha bem informado e participe dos debates. Uma boa fonte de informações sobre este e outros temas da atualidade é o livro Novas tecnologias da genética humana: avanços e impactos para a saúde, recém-lançado pelo projeto Ghente, coordenado pela Fiocruz. O livro traz a reprodução de dois seminários realizados pelo Ghente, bem como textos complementares. Ao todo, quase 30 autores assinam a obra.

“Células-tronco são definidas como células indiferenciadas e não especializadas que têm a capacidade de realizar divisões simétricas e assimétricas. Da primeira, originam-se duas novas células-tronco (indiferenciadas). Da segunda, originam-se duas células distintas: uma indiferenciada e outra diferenciada (especializada). Essas células-filhas especializadas são dotadas de funções específicas que variam de acordo com o tecido que essas novas células irão formar”, explicam Antônio Carlos Campos de Carvalho e Cristiane del Corsso, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Em relação à fonte de obtenção, as células-tronco podem ser originárias do embrião, do feto, do cordão umbilical e do adulto”, completam.

Terapias com células-tronco adultas têm sido propostas por uma equipe baiana que reúne especialistas dos hospitais Santa Izabel e São Rafael e da Fiocruz. “Em uma pesquisa pioneira no mundo, foram estudados, em uma primeira fase, 30 pacientes chagásicos com insuficiência cardíaca. Em outro projeto, também pioneiro no mundo, 30 pacientes com doenças crônicas do fígado foram estudados. Os resultados destes estudos foram promissores e serviram de base para a realização de novas análises visando à confirmação da ação da terapia celular nestas doenças e para o aprimoramento desta nova modalidade terapêutica”, contam Ricardo Ribeiro dos Santos e Milena Botelho Pereira Soares, da Fiocruz da Bahia.

Contudo, o livro não se restringe aos aspectos técnicos das pesquisas. Ele vai além ao propor uma discussão bioética. “Nas pesquisas com células embrionárias, as questões éticas estarão especialmente relacionadas à utilização de embriões. Não tenho dúvida de que a intenção da maioria dos pesquisadores envolvidos nessas pesquisas é boa. Mas há um forte questionamento sobre a partir de quando e até quando se deve considerar razoável, ou aceitável, a utilização dos embriões para a obtenção dessas células. A questão básica é o embrião. Não adianta focarmos outras questões. E por quê? Porque há uma discussão sobre quando se considera que há vida”, diz Sérgio Rego, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. Para alguns, há vida desde a concepção. Para outros, a vida está associada à noção de pessoa. “E quando podemos considerar que existe uma pessoa, nas células humanas agrupadas? Há também uma diversidade de opiniões”. Esta é a discussão e ela está longe de ser encerrada, como demonstra o atual embate em torno da Lei de Biossegurança.

Além das células-tronco, diversas outras temáticas são abordadas no livro, como a terapia gênica, a farmacogenética e a nanobiotecnologia. De modo geral, a publicação apresenta um panorama do estado da arte das pesquisas e propõe reflexões sobre as conseqüências dessas pesquisas para a sociedade. Políticas públicas, bioética, regulamentação e proteção legal das novas tecnologias também são alvo de análises. A íntegra do livro está disponível aqui.

Criado em 2001, o projeto Ghente reúne profissionais das diversas áreas do conhecimento, representantes de instituições públicas e privadas, organizações civis e sociedade, com o objetivo de promover a discussão sobre as implicações sociais, éticas e jurídicas do uso de genomas, em especial o genoma humano, na área da saúde.


http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1634&sid=10