Bernardo tem onze anos e desde os oito sabe que tem uma doença congênita, a distrofia muscular de Duchenne. É o tipo de distrofia mais comum, atingindo um a cada 3 mil e 500 nascimentos de meninos, e também a mais severa. Os primeiros sintomas são observados dos 3 aos 5 anos, quando a criança cai mais do que o normal, tem dificuldades para subir escada, correr e levantar do chão. Com o tempo, os músculos vão perdendo a força, o que levou Bernardo à cadeira de rodas. Por isso, desde que descobriu a doença do filho, o empresário carioca José Carlos Borges começou a pesquisar ativamente o assunto para tentar reverter o quadro de Bernardo.
"Nós temos naturalmente que mudar esse quadro da evolução da doença, ela é muito agressiva."
José Carlos explica que o tratamento que seu filho recebe é apenas paliativo. Por isso, aposta todas as esperanças nas pesquisas com células tronco. Durante muito tempo, a expectativa de vida para os portadores da distrofia muscular de duchenne era de 20 a 25 anos. Mas hoje, com a utilização de aparelhos de respiração artificial, o tempo de vida dos pacientes aumentou 10 anos. A coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano, Mayana Zatz, uma das maiores autoridades do país quando se fala em células-tronco, diz que as pesquisas nessa área precisam justamente de cerca de dez anos para apresentar resultados práticos.
"E dez anos é o que a gente precisa, eu acho, para transformar essas pesquisas em tratamento. O que a gente não quer de jeito nenhum é arriscar injetar células tronco e que elas se transformem em um tumor. A gente sabe que existe esse risco. Então se você injetar células-tronco quando ela ainda está no começo da diferenciação, quando ela tem aquele potencial para fazer muitos tecidos, ela também tem o potencial de formar tumores. Entao você tem que injetar quando ela está num período mais diferenciado, ou seja, ela já tem um compromisso de virar músculo, ou osso, ou sangue. Só quando a gente tiver esse controle, quando a gente conseguir mandar nessas células e dizer assim: você vai me obedecer, você só vai fazer isso, a gente vai poder injetar no organismo."
As células tronco representam uma chance para a descoberta de tratamentos para doenças atualmente incuráveis como mal de Parkinson, diabetes, graves problemas no coração e distrofias musculares. Além disso, a cura para lesões causadas por acidentes também está sendo estudada pelos pesquisadores. A equipe do Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz, da Fiocruz, na Bahia, realizou o pioneiro transplante de células de medula óssea em pacientes com problemas cardíacos devido à doença de Chagas. Milena Soares, imunologista e pesquisadora do Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz, é responsável pelo estudo. Ela explica que as células-tronco são uma alternativa mais simples e barata e com menos complicações que o tradicional transplante de coração.
"Nesses pacientes, os estudos iniciais indicam que há uma melhora da função cardíaca, e consequentemente da qualidade de vida desses pacientes. Mas a gente só pode afirmar que a terapia é realmente eficaz após a análise dos resultados desse estudo multicêntrico que está sendo realizado."
O estudo multicêntrico citado por Milena envolve 33 centros de pesquisa, em nove estados e no Distrito Federal, financiados pelo Ministério da Saúde, visando encontrar nas células-tronco uma solução para cardiopatias graves. Milena Soares destaca que as áreas com pesquisas mais avançadas no Brasil são cardiologia, neurologia e doenças do fígado. A imunologista explica que as células-tronco adultas são retiradas da medula óssea do próprio paciente.
"Na área de cardiologia, que é a mais avançada, a gente está realizando o maior estudo com terapia de células-tronco do mundo, incluindo 1.200 pacientes. É um estudo que está sendo financiado pelo Ministério da Saúde, e que estão sendo incluídos pacientes com 4 cardiopatias. E nesse estudo vai se comprovar a eficácia, ou não, desse tratamento."
A esperança depositada nas células-tronco para cura de doenças levou pacientes, pais e pesquisadores a se unir para criar o movimento em prol da Vida, o Movitae, em 2003. A presidente do grupo, Andréa Bezerra Albuquerque, ressalta a impaciência dos doentes, esperando que o resultado das pesquisas traga a tão almejada cura. Mas Andréa lembra que o tempo da ciência é muito diferente do nosso.
"Atualmente, não tem nada que se possa fazer com a medicina tradicional, a não ser um tratamento paliativo, um suporte, para deixar o paciente confortável, mas são doenças que não param, vão progredindo até a morte mesmo."
Foi recentemente lançado um portal na internet chamado Instituto Virtual de Células-Tronco, no endereço eletrônico www.ivct.org . O site vai reunir vários pesquisadores em células-tronco, num ambiente onde podem trocar experiências virtualmente. Além disso, os pacientes e familiares podem tirar todas as dúvidas sobre doenças e as pesquisas com células-tronco.
De Brasília, Adriana Magalhães.
E AQUI TERMINA AQUI A SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS SOBRE CIÊNCIA. TEXTO E PESQUISA DE ADRIANA MAGALHÃES, PRODUÇÃO DE LUCÉLIA CRISTINA, COORDENAÇÃO E EDIÇÃO DE APRÍGIO NOGUEIRA E PRODUÇÃO DE LUCÉLIA CRISTINA.
segunda-feira, 13 de novembro de 2006
http://www.camara.gov.br/internet/radiocamara/default.asp?selecao=MAT&Materia=43462
ESTE BLOG TEM POR FINALIDADE ABSORVER TODAS AS POSSÍVEIS INFORMAÇÕES,NO QUE DIZ RESPEITO AS PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
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