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domingo, 20 de dezembro de 2009

Células-tronco- Esperança

ENTREVISTA EXCLUSIVA/AGNES NISHIMURA


Rodrigo Craveiro

"As células-tronco são uma esperança para o futuro"
Agnes Nishimura, cientista brasileira responsável pela descoberta de nova variação da esclerose lateral amiotrófica (ELA) e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria do King's College, em Londres

"Adin seria volta ao obscurantismo"

A caracterização de um novo tipo de esclerose laterial amiotrófica (ELA) numa família brasileira valeu à pesquisadora brasileira Agnes Nishimura, de 28 anos, o prêmio Paulo Gontijo na categoria Medicina. A láurea, entregue no último dia 20 de junho em Brasília à cientista do Instituto de Psiquiatra do King's College -- de Londres --, foi criada pelo físico, engenheiro civil e empresário Paulo Gontijo, morto pela doença em 2002. Em entrevista ao site Células-Tronco Esperança, Nishimura afirmou que a aprovação da Ação de Inconstitucionalidade (Adin) da Lei de Biossegurança pelo Supremo Tribunal Federal seria um retrocesso para a ciência, a volta ao obscurantismo.

Como a senhora caracterizou a esclerose e qual é a importância desse estudo para a ciência?
Na realidade nós estudamos a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Uma grande família foi encaminhada ao Centro de Estudos do Genoma Humano, do Instituto de Biociências da USP. A partir dessa família, descobrimos uma nova forma de ELA. A identificação dessa nova doença e a compreensão da causa da mesma são de suma importância, pois a descoberta dessa nova proteína abrirá um novo campo de pesquisas que antes era desconhecido para essa doença neurodegenerativa. Esperamos entender os mecanismos envolvidos nessa patologia e, possivelmente no futuro -- não sabemos ainda quão distante --, tentar encontrar uma terapia.

O que levou a senhora a se dedicar às pesquisas nessa área e de que forma as células-tronco se encaixam nesse processo?
Sempre gostei de genética e na minha família há casos de doenças neuromusculares. Formei-me em Biologia pela USP e comecei a estagiar no laboratório da Dra.Mayana Zatz no segundo ano de faculdade. Desde o começo ela me ensinou como trabalhar com os pacientes de forma ética e justa. No laboratório, trabalhei com diferentes doenças até chegar na esclerose lateral amiotrófica. Em 2005, entramos em contato com o Dr. Christopher Shaw, do Instituto de Psiquiatria do Departamento de Neurologia do King's College. Naquela época, ele tinha recebido uma licença para trabalhar com células-tronco embrionárias humanas em Londres e também estudava o gene que identificamos no Brasil.

Quais os principais sintomas da esclerose lateral amiotrófica e de que forma ela age no organismo?
A esclerose lateral amiotrófica é muito heterogênea e pode se manifestar na idade adulta ou em adolescentes. A forma mais comum é a forma adulta. Além disso, pode ser hereditária ou não. Inicia-se com dificuldades em caminhar longas distâncias, seguidas de dificuldade em segurar objetos preferencialmente em um dos lados do corpo. Posteriormente, o paciente pode ter dificuldade em falar, deglutir e respirar. Muitos apresentam fasciculação (tremor nos músculos) e tremor nas extremidades dos dedos. A forma clássica é muito rápida, mas há também algumas formas lentas. A que descobrimos é hereditária, geralmente com progressão lenta e é chamada de ELA tipo 8. De forma geral, o que ocorre no organismo é a morte dos neurônios motores (os neurônios que levam impulsos do cérebro para a medula espinhal e da medula para os músculos). Eles representam os maiores neurônios do corpo humano, pois saem da medula e chegam ao dedão do pé. Por alguma razão (genética ou ambiental), esses neurônios morrem e, conseqüentemente, deixam de nutrir os músculos. Por isso, ocorre a atrofia muscular nesses pacientes.

É possível estabelecermos uma cura para a esclerose por meio de células-tronco? Qual o potencial desas estruturas no combate à doença?
No momento não há nenhum tratamento de cura para a ELA. É possível retardar o avanço da doença por meio de medicamentos, mas isso não ocorre em todos os casos. Recomenda-se tratamentos paliativos, como fisioterapia, fonoaudiologia, hidroginástica etc. Todos sob supervisão médica. As células-tronco são potencialmente capazes de se transformar em neurônios e substituir o neurônio motor danificado. Entretanto, o tratamento com esse tipo de célula ainda não é possível. O maior objetivo no momento, em relação às células-tronco, é tentar entender porque e como esses neurônios motores morrem. Dizemos sempre que as células-tronco são uma esperança para o futuro, mas no momento tentamos entender como as células atuam para depois pensar em terapias.

Como a senhora recebe o prêmio Paulo Gontijo? É um incentivo às pesquisas em busca de uma cura para a esclerose?
O Prêmio Paulo Gontijo foi uma iniciativa muito bonita por parte dos familiares de Paulo Gontijo. É um incentivo para a pesquisa no Brasil e serve para mostrar para os brasileiros que podemos fazer pesquisa no nosso país. Esperamos que outras pessoas possam seguir o exemplo da família Gontijo e incentivar a pesquisa no nosso país. Acredito que devemos primeiro entender por que ocorre a doença para depois tentarmos procurar uma cura. Sem entender a causa, não há como chegar à cura da ELA.

Como analisa a ciência brasileira em termos de pesquisas com células-tronco? Estamos avançados? Por que?
Existem diferentes células-tronco, as embrionárias e as adultas. As células-tronco embrionárias têm o potencial de se diferenciar em todos ou quase todos os tecidos. As adultas não, são mais limitadas. Acredito que em algumas áreas a pesquisa com células-tronco está avançada, pois não há restrição na lei quanto ao estudo de células-tronco adultas. Depende muito no objetivo final da pesquisa. Tratar um paciente com diabetes é muito diferente de tratar um paciente com doenças neuromusculares. Os estudos com células-tronco embrionárias humanas ainda são preliminares. Apesar da lei que permite essas pesquisas ter sido aprovada em março de 2005, os comitês de ética ainda ficam receosos em aprovar as pesquisas antes de uma definição, pelo Superior Tribunal Federal (STF), acerca da Ação de Inconstituicionalidade (Adin) apresentada pelo ex-procurador da República, Cláudio Fonteles. Além disso, há dificuldades na obtenção do material e no cultivo dessas células. Isso não significa que ao trabalhar com essas células iremos descobrir a causa de todas as doenças. Ainda estamos aprendendo, mas se não obtivermos licença para trabalhar com essas células nunca saberemos se são potencialmente utilizáveis para tratamento ou não. Sou contra qualquer tratamento clínico em humanos com o uso de células-tronco (embrionárias ou não) sem antes um estudo rigoroso em laboratório e em modelos animais.

O Supremo Tribunal Federal (STF) votará nos próximos dias a Adin da Lei de Biossegurança. Caso a Adin seja aprovada, o que isso representará para a ciëncia brasileira?
Temos confiança que a Adin não será aprovada. a lei foi votada por 96% dos senadores e 85% dos deputados. A grande maioria da população é a favor dessas pesquisas. Uma petição escrita pela jornalista Conceição Lemes em favor dessas pesquisas já obteve mais de 32 mil assinaturas. Mas, se apesar de tudo a Adin for aprovada, isso significará um retrocesso enorme para as pesquisas, a volta ao obscurantismo. Não podemos deixar isso acontecer.

http://www.celula-tronco.com/noticias.php?codigo=97

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